
Lembram-se em Dezembro quando vos falei sobre este livro? (
aqui)
Pois bem, há novidades!
O lançamento está marcado e confirmado para dia 13 de Fevereiro, já este Domingo, na Bertrand do Fórum Montijo, pelas 17 horas!
Estão ainda disponíveis alguns excertos dos contos, que vos deixo aqui para poderem espreitar:
(Mas antes disso! Relembro que todas estas informações estão também disponíveis no blogue dedicado à obra (
aqui), que também poderão seguir através do Facebook (
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John Lennon Nunca Morreu: Lembrava-se  perfeitamente da primeira vez em que tinha tido contacto com a música  de John Lennon e dos Beatles. As memórias estavam muito claras na sua  cabeça: conseguia ver os lugares, imaginar as pessoas, recordar as  sensações. 
Na  altura, tinha doze anos e começara a interessar-se a sério pela música.  Os seus pais queriam oferecer-lhe uma prenda de aniversário e ele  pedira para o levarem a uma loja de CDs. Queria procurar por lá algo que  lhe agradasse realmente, algo diferente da música que geralmente  passava nas rádios. Tinha bem presente na memória a loja a que o  tinham levado: uma loja pequena, como as que havia na altura e que  agora já não existiam. Não demorara muito a reparar num CD que estava em  destaque: uma antologia da carreira a solo de John Lennon. Tinha pedido  para ouvir e, tal como era costume nessas pequenas lojas, a vendedora  pusera o CD a tocar numa aparelhagem. Enquanto a senhora passava  rapidamente de canção em canção, para que ficasse com uma ideia de como  era o CD, ele absorvia os escassos minutos de cada música que lhe era  permitido ouvir, não conseguindo deixar de pensar “É isto, é mesmo isto  que procurava!”. 
Também  se recordava do impacto que cada canção tivera em si, quando, já em  casa, ouvira todo o CD várias vezes. Não demorara a comprar o seu  primeiro álbum dos Beatles e a seguir vieram todos os outros da banda,  bem como os álbuns dos membros do grupo, nas suas carreiras a solo. Cada  canção fora para ele uma descoberta maravilhosa, uma fonte de  inspiração, um refúgio, uma companhia e, por vezes, até um consolo. A  música dos Beatles tinha-o marcado como nenhuma outra alguma vez fora  capaz de o fazer.
A troca:
Quando  fecho os olhos e me concentro, a minha mente oferece-me um presente de  várias imagens, as quais ficaram nela gravadas de tal forma que é  impossível pensar que um dia se desvanecerão. São quadros vivos, cheios  de movimento e sons, como se eu estivesse novamente a viver aqueles  momentos da minha infância. Neles, vejo a minha irmã gémea a correr ao  meu lado, num dia de Primavera, avançando em direcção ao coração da  floresta. Os cabelos cor de fogo soltos, acariciados pela brisa, o rosto  corado da corrida, o vestido leve, que usávamos para os
nossos  passeios na floresta, esvoaçando à sua volta. Por cima de nós, os ramos  floridos das robustas árvores, que o sol suave fazia brilhar e de onde  desciam os sons das aves e dos esquilos. Também a vejo junto ao rio,  observando, com os seus olhos pensativos, as águas calmas, espelho da  imensidão que nos rodeava, e deitada nos tapetes de flores, sentindo o  seu aroma. 
Eu  e Stella tivemos a sorte de crescer junto à floresta e partilhar com  ela as belezas da Natureza. O nosso pai era dono de uma imensidão de  terras e nós vivíamos naquela que incluía aquele tesouro de árvores,  flores, plantas e animais. A nossa casa situava-se na orla do mesmo. 
Até  aos dezoito anos, a nossa vida foi repleta de paz e, posso dizê-lo com  toda a certeza, éramos muito felizes. Na nossa infância, como é costume  acontecer entre gémeos, não só tínhamos personalidades muito parecidas,  como éramos muito unidas. No entanto, à medida que fomos crescendo, as  diferenças entre nós foram aumentando. Stella tornou-se uma jovem  silenciosa, fechada no seu próprio mundo, ao qual nem eu tinha grande  acesso, mas via-se nos seus olhos e nas suas expressões que se sentia  bem consigo própria e com a sua vida. 
Pouco depois de completarmos dezoito anos, porém, houve um acontecimento que mudou tudo para sempre.
O Sacrifício:
Faz  parte da tradição do meu povo contar histórias. Lendas sobre a nossa  vinda para aqui, acontecimentos que tiveram lugar quando já estávamos  nesta terra e tantas outras histórias que fazem brilhar os olhos dos  mais pequenos e arrancam sorrisos aos anciãos, à noite, em volta das  lareiras. Eu nunca tive muito jeito para fazer o papel de contadora. No  entanto, há uma história dentro de mim que, sinto, chegou a altura de  sair, abrir as asas e voar, como uma ave que passou muito tempo em  cativeiro. Durante vários anos, escondi esta história no interior de mim  mesma. Agora, penso, já não faz sentido e, se há uma história que julgo  que conseguirei contar, é esta, uma história sobre a minha família. 
Tudo  se passou há muito tempo, quando eu era jovem. No entanto, lembro-me do  dia em que tudo começou, como se estivesse a ver os sítios e os  acontecimentos a desenrolarem-se perante os meus olhos. Estávamos no  começo da Primavera e os campos à volta da fortaleza resplandeciam em  toda a sua beleza, verdes e brilhantes ao suave sol primaveril. Um pouco  mais longe, as árvores do bosque tinham-se enchido de delicadas flores  brancas. Eu encontrava-me numa das torres da fortaleza, um dos meus  locais preferidos. Dali era possível ver tudo o que me rodeava. Estava a  coser, mas, de vez em quando, fazia uma pausa no meu trabalho e  observava a paisagem. Foi numa dessas paragens que o vi pela primeira  vez, acompanhado por dois dos homens do meu pai, que era o senhor  daqueles domínios. Caminhavam na direcção da fortaleza. Questionei-me  quem seria e por que razão os guardas, apesar de não o trazerem preso,  se mantinham bem perto dele, como se se sentissem desconfiados. Não  demoraria muito a descobrir. Nessa noite, fiquei a saber as respostas a  estas perguntas.
E nada mais importa:
O  ténue luar dessa noite iluminava a estação de comboios quando ela  chegou e se dirigiu às máquinas onde se compravam os bilhetes. A jovem  olhou para cima e, durante uns momentos, fixou a lua com os seus olhos  melancólicos. Esse mesmo olhar perdido dispersou-se em seguida pelo  elevado número de pessoas que esperavam impacientemente o último  comboio, o qual partiria dali a vinte minutos, à meia-noite. Suspirou  profundamente, comprou o bilhete e encaminhou-se para um canto solitário  da estação, onde se sentou e se prontificou a esperar. Não tinha  pressa. Não havia nada à sua espera em casa. Nem lá nem em qualquer  outro lugar.
Os mesmos olhos que há momentos tinham fixado a lua  pousavam agora, com um brilho triste, no traçado dos carris, e, na  realidade, não observavam nada, estavam virados para dentro,  contemplando somente a angústia interior. O que estava ela a fazer ali? O  que ia fazer para casa? Tudo parecia tão sem sentido… Já não sabia há  quanto tempo se arrastava pelo mundo sem saber porquê nem para quê.  Arrastava-se simplesmente, sobrevivia à passagem
dos dias, como se  estes fossem fardos pesados que tinha de carregar… Não eram raras as  ocasiões em que não aguentava mais a opressão dentro do seu peito, o  frio interior, como se dentro dela estivesse permanentemente a nevar.
Estava  perdida neste labirinto de pensamentos, quando se apercebeu de que as  pessoas que estavam mais perto dela se moviam apressadamente para longe  dali. Ergueu a cabeça e viu caminhar para junto de si um homem, com  roupas velhas, cabelo comprido e emaranhado, o rosto e as mãos sujas.  Transportava um cesto de verga muito usado. No primeiro instante, sentiu  um ligeiro receio.
Boas leituras!